Greve

Nesta matéria, o autor apresenta algumas reflexões sobre os efeitos de uma greve e suas expectativas de que as lideranças da Empresa, dos Sindicatos e das Federações encontrem logo um ponto de convergência.

O texto a seguir foi especialmente escrito para os trabalhadores dos Correios.

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O preço de uma greve.

Por Marcos César Alves Silva
Analista de Correios Senior

Sempre que presencio uma greve, meu sentimento é de tristeza; pois sei que, em geral, muitos serão prejudicados, começando pelos clientes, que não terão os serviços de que necessitam, e também os empregados, que arcarão com descontos, se tiverem aderido à paralisação, ou com a sobrecarga decorrente da falta de alguns colegas, se não tiverem aderido. No caso da ECT, a Empresa também perde em imagem, que vai ficando arranhada, e em resultados, reduzidos não só no curto prazo, com a ausência de demanda e o aumento de indenizações, mas também no longo prazo, com algo muito mais grave e impactante, que é a substituição pura e simples de nossos serviços por ofertas de concorrentes, sejam eles outras empresas de transporte de encomendas ou mesmo a internet.
Hoje uma das primeiras mensagens eletrônicas que abri era de uma operadora de telefonia celular que aproveitava a ocorrência da greve dos Correios para me oferecer uma conta online, com diversos argumentos inclusive de que era uma iniciativa para ajudar na preservação do verde, deixando o uso do papel para aquelas coisas onde ele é realmente necessário. A operadora acenava ainda com o sorteio de uma série de prêmios para os clientes que aderissem.
Outras mensagens virão em seguida de outros grandes postadores se o movimento em curso persistir e muitos clientes vão aderir à proposta e deixar de receber no futuro suas contas em papel pelos Correios.
Alguns podem argumentar que se trata de uma tendência inexorável, mas é certo que oportunidades como uma greve dos Correios constituem uma ocasião ímpar para encontrar os clientes mais sensíveis ao assunto e motivá-los a deixar de receber mais rapidamente suas contas em papel.
Em uma paralisação anterior, ouvi casualmente o relato de um concorrente do segmento de encomendas que reportava não dar conta do volume adicional de remessas que passava a receber durante uma greve dos Correios e que muitos dos clientes que usavam contingencialmente seus serviços nessa ocasião permaneciam posteriormente enviando pelo menos uma parte de seus envios por ele, ou seja, após o fim da greve uma parte dos envios que seriam confiados normalmente aos Correios passava a seguir pela concorrência.
No que se refere ao pessoal, uma greve é também um momento que contrapõe os colegas que aderem ao movimento àqueles que preferem continuar trabalhando. O estresse, a sobrecarga e a preocupação com a situação deixam todos, indistintamente, muito nervosos, não sendo incomuns embates verbais e até físicos entre colegas que até então estavam ombreados na execução de suas atividades. E os efeitos ruins não costumam se encerrar com o fim da greve.
Mas, se a greve é um direito dos trabalhadores, o que fazer então?
Primeiramente, negociar muito antes de empreender uma greve. A responsabilidade por essa condução é dos Sindicatos e Federações e da Empresa, que devem levar em conta que o preço de uma greve é sempre alto, para todos.
Depois, só utilizar esse recurso se todas as vias negociais estiverem de fato esgotadas, pois, apesar de algumas ilustres opiniões contrárias, não há mérito em realizar uma grande greve apenas por realizá-la. Isso pode interessar a algumas lideranças, a partidos políticos ou a outras agremiações, mas não aos empregados, que em geral querem boas condições de trabalho, justa remuneração e perspectivas de crescimento profissional.
Neste momento em que temos focos de greve na Empresa, fico pessoalmente muito preocupado e espero que as lideranças da Empresa e dos Sindicatos e Federações consigam superar logo as divergências e construir uma solução que minimize o preço que todos pagaremos pelo movimento.

12 comentários:

  1. Sejamos sensato e façamos logo o que vai acontecer, precisamos separar a parte operacional da parte estrategica e este caminho irá acontecer, apenas não sabemos quando...

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  2. Concordo plenamente e acho que é uma irresponsabilidade dos Sindicatos, Federações e da própria ECT deixar que greves contínuas aconteçam todos os anos. Se nós, os empregados, já não aguentamos mais isso, imaginem os clientes que contam com os serviços da empresa para enviar suas correspondências, faturas e encomendas? A empresa, os empregados, os clientes e a população, todos saem prejudicados e perdem muito, portanto, os responsáveis deveriam fazer de tudo para evitar que as greves sejam deflagradas e, principalmente, que perdurem por muito tempo.

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    1. Concordo em gênero, número e grau. Vera, vc é uma pessoa sensata e razoável, perfil predominante em todas as fileiras ecetistas. Tb sou empregado dos Correioso. Infelizmente este tipo de comportamento ocorre para beneficiar partidos políticos e poliqueiros sindicalistas, que em nada defendem os interesses dos empregados, senão os seus mesmo em conchavos politiqueiros nojetos que devem ser repudiados por todos os empregados sérios. Estas lideranças precisam ser exegradas da nossa ECT. Fora com os politiqueiros!

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    2. Ratifico o seu comentário Vera Lúcia, totalmente de acordo!
      O meu sentimento é de tristeza como disse o Marcos César Alves Dias, pelos clientes e pela imagem de nossa empresa que decai quilômetros a cada greve. Sinto profunda insatisfação com o sindicato, que só tem interesses próprios!

      Angelina Ribeiro de Sousa

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    3. Em tempos passados, as greves serviam para a categoraia reivindicar aumento de salário, mais benefícios e melhorias nas condições de trabalho, ultimamente não é o vem acontecendo, ou seja, não estamos ganhando nada, o que é pior, estamos perdendo ou deixando de ganhar. È hora de repensar o motivo dessas paralizações.

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  3. Não suporto mais a palavra greve. Imaginem nossos clientes.

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  4. A matéria é ótima pois faz um diagnóstico real de como pode ser prejudicial uma Greve nos Correios nos mais diversos aspectos e ameaça a nossa própria existência. As consequências de uma Greve são maiores do que se pode imaginar, portanto deve-se refletir sobre o seu uso.

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  5. Virou um circo, onde entre leões e outras feras, estamos nos.

    Sou contra greves e vou além: esse modelo de sindicato conivente com certas mazelas, com propostas utópicas, deve ser totalmente banido da empresa, pois ainda e tempo.

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  6. Espera ver aqui, principalmente por parte do representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Empresa, uma postura um pouco mais inclinada as reividincações dos trabalhadores. E os comentários são realmente deprimentes.

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  7. Ferrer, O artigo não esgota o tema. Ele expõe nossa preocupação com os efeitos gravíssimos de um recurso que não pode ser banalizado, ou seja, Empresa e representações precisam se esforçar ao máximo para não se precisar recorrer a uma greve. Não pode ser tido como normal a ocorrência de uma greve por ano ou coisa assim. O texto busca estimular esse tipo de reflexão. Independentemente disso, nossos canais de contato com as representações sindicais estão sempre abertos para aquelas representações que quiserem conosco tratar.

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  8. MARCOS CESAR VOCÊ É ANALISTA NÉ, POIS É, COMO VC MESMO DISSE VC SÓ PRESENCIA GREVE, NUNCA PARTICIPOU POIS BEM, SE EU FOSSE ANALISTA TAMBEM NÃO PARTICIPARIA, POIS TRABALHARIA LIMPINHO, NO AR CONDICIONADO, BOM SALÁRIO...
    AGORA SE VC FOSSE CARTEIRO OU OTT AI SIM VC IRIA SABER O QUE É SOFRER NA ECT, TRABALHANDO SUJO, FAZENDO SERVIÇO DE CHAPA, PEGANDO CHUVA OU SOL, CORRENDO DE CACHORRO ENTRE OUTROS PROBLEMAS, ENTÃO ANTES DE VC PENSAR NA EMPRESA OU NOS CLIENTES, PENSE EM NÓS QUE SOFREMOS TODOS OS DIAS AQUI, LUTAMOS POR NÓS, PORQUE AQUI SOMOS ESQUECIDOS, FICA A DICA.

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    1. Ao colega anônimo: trabalhei na Empresa em diversas posições, inclusive de gerência operacional. Nessa posição e na realidade da época, em que os recursos da ECT eram mais escassos, com muita frequência estive ao lado de meus colegas descarregando caminhão, separando encomendas e malotes, pesquisando endereços insuficientes etc. Imagino que eles me viam como um líder que sabia da importância do trabalho de cada um, que valorizava o trabalho em equipe, que se preocupava em mantê-los informados sobre os temas da Empresa e que não hesitava em arregaçar as mangas e ajudar quando a situação exigia. Também pude, por outro lado, desenvolver trabalhos com outro tipo de dificuldade, que me levaram a aprender inúmeras coisas que sempre tentei transformar em avanço concreto para a ECT e que são típicas da realidade de um analista e que se, por um lado, não exige esforço físico, por outro demanda um esforço intelectual significativo.
      Assim, não tenho nenhum dúvida de que uma boa empresa precisa de bons profissionais em todos os níveis e cargos, sejam eles analistas ou carteiros, cada um na sua missão. Hoje, no Conselho, tenho a felicidade de representar a todos - carteiros, atendentes, analistas etc - e de poder, diariamente, conversar com eles, indistintamente.

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